segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Rivalidade imperialista

No decorrer dos meses recentes, os apuros dos povos da província de Darfur no oeste do Sudão têm recebido grande atenção dos governantes, políticos e noticiaristas ocidentais. Imagens gráficas e relatos foram divulgados acêrca da fome, das doenças e das mortes impostas aos darfuri, das atvidades mortíferas praticadas pelas milícias janjawid armadas pelo regime de Khartum, e das centenas de milhares desesperados homens, mulheres e crianças obrigados a abandonarem suas casase terras, à procura de refúgio no vizinho Tchad ou em improvisados acampamentos “humanitários”.

Infelizmente, nada há de excepcional quanto à situação em Darfur. Por todo o mundo subdesenvolvido, e particularmente na África, a fome, o deslocamento em massa de populações, a tortura, o estupro, a pilhagem e os massacres são triviais. E, ainda assim, apenas muito raramente levam-se tais situações ao conhecimento público ocidental, e a espécie de cobertura e “perfil” traçado da crise de Darfur é realmente um bocado excepcional.
A crise de Darfur arrasta-se há longo tempo. No entanto, de um ponto de vista puramente prático, podem-se satisfazer as mais imediatas necessidades da população local de forma relativamente fácil. Centenas de milhares de pessoas estao desesperadamente famintas. Recém-nascidos, idosos e doentes morrem em proporções alarmantes. Alguns relatos divulgam dados que se aproximam de 2000 mortes diárias. Por que não se está fornecendo alimentos? A convesa sobre “estradas perigosas” e ações de “bandos armados”, que supostamente impediriam alimentos e outros suprimentos de alcançarem os acampamentos dificilemtne convencem. Fato é que alimento, água, abrigo e socorro médico facilmente poderiam chegar aos acampamentos transportados por aeronaves e helicópteros fretados. No ano passado, em questão de poucas semanas, os governos americanos e britânicos transportaram acima de 250.000 militares, tanques, viaturas, aviões e toda uma “parafernália bélica de apoio”, posicionando-os para a invasão do Iraque. Não é possível levar alguns milhares de toneladas de suprimentos para Darfur? A verdade verdadeira é que a administração dos Estados Unidos não deseja amenizar a situação das tribos de Darfur, precisamente porque tal estado de coisas está sendo aproveitado à guisa de argumento para o bloquear o país. Por traz da acusações oficiais de “limpeza étnica” e “genocídio”, os governantes ocidentais doaram muito pouco dinheiro, e até mesmo um mínimo deste tem-se efetivamente utilizado para aliviar as vítimas da fome e da violência em Darfur.

A intensa pressão aplicada para a imposição de um sanções internacionais contra o Sudão comprova suficientemente o caráter completamente hipócrita da propaganda “humanitaria” americana. Como conseqüência de tal medida, mergulhar-se-ia toda a população sudanesa numa situação similar à existente em Darfur. O Sudão é um país extremamente atrasado. Mesmo sem a devastação resultante de um eventual bloqueio, a vasta maioria do povo encontrra-se em estado desesperador de miséria. Tal restrição significaria nada menos do que a fome gneralizada.

Outro argumento empregado pelo governo dos Estados Unidos em favor de sanções economicas é a acusação de que o governo sudanês está cometendo “genocídio” em Darfur. Na sessão do Conselho de Segurança das Nações Unidas, no início de setembro, esta alegação dominou o “debate” sobre o Sudão. Ninguém mencionou a palavra petróleo. Contudo, todas as partes interessadas sabiam perfeitamente bem que era o ouro negro o âmago da questão em jogo, inclusive naturalmente a delegação chinesa, que veementemente opôs-se à imposição de um bloqueio. A delegação norte-americana insistiu no emprego do termo “genocídio”, com o objetivo de reforçar as justificativas para a providência e examinar a possibilidade de intervenção militar direta num estágio posterior. Usou-se o termo “genocídio” de igual forma em relação aos albaneses, a fim de legitimar forçosamente a guerra contra a Sérvia em 1997, enquanto em Ruanda – um país de relativamente pouca importância para os Estados Unidos – a adminmistração Clinton recusou-se qualificar como “genocídio” a matança de aproximadamente um milhão de tutsis. Os desabrigados e famintos de Darfur representam apenas fatores insignificantes na cartada por lucros e petróleo.



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